POR CARDOSO LIRA
Por Paulo Roberto Gotaç
São muitas as diferenças entre as manifestações atuais e as que ocorreram durante o último mês.
As de junho constituíram uma erupção natural da sociedade, deflagradas por um aumento de tarifas e rapidamente amplificadas, ao abranger questões que há muito vêm sufocando o povo, simbolizadas pela crescente sensação de falta de representatividade da classe política e pela irrespirável atmosfera de corrupção que empesta o país, além do completo abandono do interesse comum, configurado pelos lamentáveis padrões de serviços essenciais à população, como o transporte público, contido numa caixa preta que envolve empresários poderosos e políticos lobistas, cativos;
A segurança pública, beirando uma espécie de estado de sítio imposto pelos bandidos; a educação básica, desassistida e maltrapilha, obrigando as famílias que podem a gastos escorchantes, impostos por uma indústria de ensino particular extremamente lucrativa e bem representada na Câmara e nas Assembleias; a saúde pública, cujas emergências exibem cenas dignas de antecâmaras de campos de extermínio.
É claro que tanta indignação represada, refletiu-se dramaticamente na maneira muitas vezes divergente das manifestações, com cenas de vandalismo e falta de foco objetivo, já que não havia lideranças explícitas e o grande motor foi a conclamação pelas redes sociais.
Apesar de ter gerado alguns resultados práticos, como o susto do governo e um ritmo meio artificial de atividade que há muito não se via igual no Congresso, o ardor começou a arrefecer e, ao ser substituído pelos movimentos de hoje, mais racionais, comandados por centrais sindicais, com lideranças impregnadas de aspirações políticas e de poder, habituadas à montagem de grandes atos reivindicatórios que, em última análise, servem quase que exclusivamente para a promoção de seus dirigentes.
Fica a dúvida: o que é preferível, movimentos viscerais que nascem da alma angustiada do povo, meio desordenados mas honestos, às vezes extravasando em exageros, ou "dias de luta", coordenados por raposas sindicais inseridas num sistema político cuja higienização era uma das aspirações dos movimentos de junho?
Com a palavra, a sociedade.
(Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-Mar-e-Guerra Reformado.)
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, minimizou nesta sexta-feira a baixa participação de petistas nas manifestações convocadas pelas centrais sindicais em São Paulo, atribuindo a ausência à indisponibilidade de militantes para participar, apesar da convocação feita pelo partido.
— A militância participa no limite da sua disponibilidade. Tem muita gente que, felizmente, está empregada agora depois de 10 anos do governo Lula. (A manifestação) Foi durante a semana, não era feriado, boa parte da nossa militância está empregada — ironizou o dirigente, que admitiu não ter ido ao ato para “não se expor”, por sugestão dos próprios sindicalistas.
Nesta sexta-feira(ontem), petistas históricos e simpatizantes lamentaram a discreta participação nos atos em São Paulo, berço do partido e espaço de constante participação da sigla no passado. ( O Globo)
POSTADO PELO LOBO DO MAR