sábado, 5 de abril de 2014

PF estoura propinoduto da Petrobras na Operação Lava Jato. Delação premiada pode derrubar governo do PT.


POR CARDOSO LIRA

Nove fornecedores da Petrobras depositaram R$ 34,7 milhões na conta de uma empresa de fachada controlada pelo doleiro Alberto Youssef, segundo laudo da Polícia Federal obtido pela Folha. A confissão de que a empresa não tem atividade de fato foi feita por um empregado do doleiro, Waldomiro de Oliveira, em nome de quem a MO Consultoria está registrada na Junta Comercial de São Paulo. A Folha teve acesso ao depoimento do funcionário, que decidiu colaborar com a PF na tentativa de receber uma pena menor.

A polícia suspeita que a MO Consultoria servia para repassar propina para funcionários públicos e políticos. Outro laudo aponta que passaram por essa empresa um total de R$ 90 milhões entre 2009 e 2013. Segundo relatório da PF, há "fortes indícios da utilização dascontas da empresa para trânsito de valores ilícitos". A consultoria foi descoberta pela PF durante a investigação da Operação Lava Jato, que apura lavagem de dinheiro com uso simulado de importação e exportação.
Os contratos da suposta consultoria eram uma forma de as empresas darem uma aparência legal a subornos, segundo suspeita da PF. Hánotas fiscais das consultorias, mas não há provas de que o serviço foi prestado, deacordo com a polícia. Grandes grupos que pagaram à MO atuam nas obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, suspeita de ter sido superfaturada.

Os maiores pagamentos à consultoria foram feitos por duas empresas do grupo Sanko, fornecedor de tubos para empresas contratadas pela Petrobras: R$ 26 milhões. Asvendas diretas da Sanko para a Petrobras subiram mais de 7.000% entre 2011 e 2013, segundo a empresa: de R$ 38,7 mil para R$ 2,77 milhões. Os maiores negócios da Sanko, porém, não são feitos diretamente com a Petrobras, mas com fornecedores da estatal. A Sanko diz que faturou R$ 120 milhões em 2013.

Também estão na lista de pagadores da consultoria outras empresas que foram contratadas para a obra da refinaria em Pernambuco, como o consócio Rnest, formado por Engevix e EIT (R$ 3,2 milhões), Jaraguá Equipamentos (R$ 1,9 milhão), Galvão Engenharia (R$ 1,53 milhão) e OAS, tanto a construtora quanto a holding (R$ 1,18 milhão na soma). 
A obra da refinaria começou em 2005, durante o governo Lula, com a estimativa de que custaria US$ 2,5 bilhões (R$ 5,6 bilhões), mas a conta já chegou a US$ 17 bilhões (R$ 38 bilhões). Auditorias do Tribunal de Contas da União apontam que só nos quatro principais contratos da refinaria, que chegam a R$ 10,8 bilhões, o superfaturamento pode chegar a R$ 505 milhões.

Um dos negociadores dos contratos da refinaria foi o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que também foi preso na Operação Lava Jato, por tentativa de ocultar documentos. A PF suspeita que Costa tenhanegócios com Youssef e que usava os canais do doleiro para pagar subornos. Policiais estimam que Youssef movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos.

Em seu depoimento, Waldomiro Oliveira disse que sua função no escritório do doleiro era "fazer contratos com empresas indicadas por Alberto Youssef e, em seguida, receber depósitos, que seriam posteriormente transferidos para empresas também indicadas por Alberto Youssef". O doleiro usava outras duas empresas para esse fim, segundo o colaborador: Empreiteira Rigidez e a RCI. Youssef é o mesmo doleiro que disponibilizou um jatinho para que o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), viajasse para o Nordeste com a família. (Folha de São Paulo)

Por Gabriela Guerreiro, na Folha:
A presidente da Petrobras, Graça Foster, e o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) cancelaram os depoimentos que prestariam à CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado na próxima terça-feira (8) e no dia 15 para falar sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal. O recuo foi articulado por aliados da presidente Dilma Rousseff, que consideram desnecessário Foster e Lobão falarem agora diante da possibilidade de criação da CPI da Petrobras. Os depoimentos tinham sido sugeridos pelo PT antes dos pedidos de criação da comissão de inquérito –para que Foster, e depois Lobão, rebatessem as denúncias de irregularidades no negócio envolvendo a compra da refinaria. A presença do ministro e da presidente da Petrobras era uma tentativa de convencer a oposição de desistir da CPI, mas a estratégia não fez o PSDB e o DEM mudarem de ideia. Como a oposição, e depois os próprios governistas, apresentaram pedidos de CPI, aliados de Dilma agora consideram que as audiências na comissão poderiam desgastar ainda mais a imagem da estatal.
Presidente da CAE, Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Foster está disposta a falar e só cancelou o depoimento diante da “estratégia” traçada pela bancada do PT no Senado. “A Graça me disse que quer falar, mas foi orientada para ir à CPI, já que teremos a comissão. A estratégia veio da liderança do PT no Senado”, afirmou Lindbergh. ”O acerto era ela vir para falar e, depois, a oposição discutiria se teria CPI ou não. Então, não temos obrigação dela vir”, completou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). O líder afirmou que, se o Congresso efetivamente instalar CPI, a presidente da Petrobras deve ser a primeira a ser chamada a depor –por isso duas audiências não se justificam. “Se a CPI não for criada, nós traremos ela e o ministro. O convite está mantido.” Foster encaminhou ofício por email à CAE cancelando o depoimento. No documento, Foster afirma que vai aguardar o desenrolar dos fatos antes de ir ao Congresso. Lobão, segundo Humberto Costa, também deve encaminhar em breve o pedido de cancelamento.
 CPI
Presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB) indicou nesta sexta-feira o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) para relatar o pedido do PT que inviabiliza a criação da CPI da Petrobras no Congresso. A CCJ vai analisar o questionamento petista na próxima terça-feira (8). Dornelles, que integra a base aliada do governo federal, vai ter que decidir se o argumento dos petistas de que não há “fato determinado” para a criação de inquérito deve prosperar. Por meio de assessores, Dornelles disse que ainda vai estudar o convite de Vital, mas sinalizou que não deve aceitar a relatoria. O senador afirmou que está envolvido com a aprovação da medida provisória 672, por isso não teria tempo de discutir o casoe há outros nomes mais “preparados” para a função.
 O relator da CCJ também terá que analisar outro pedido, apresentado pelo PSDB, que pede para que a CPI da Petrobras reúna apenas temas ligados à estatal. O PT afirma que os quatro temas sugeridos pela oposição sobre a Petrobras para serem investigados pela CPI não têm conexão entre si –por isso não constituem objeto a ser analisado pela comissão. Se o pedido do PT for aceito pela CCJ, e depois a decisão for mantida pelo plenário do Senado, nenhuma CPI da Petrobras deve ser instalada. Do contrário, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já adiantou que a comissão de inquérito a ser criada é a proposta por senadores governistas. Há quatro pedidos de criação de CPIs da Petrobras em tramitação no Congresso, dois apresentados pela oposição e dois por aliados de Dilma. Dois deles são de CPIs exclusivas do Senado, e outros dois de CPIs mistas (com deputados e senadores).

POSTADO PELO LOBO DO MAR