quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Por Cardoso Lira
















JarbasPassarinho5

 TENDÊNCIAS  opiniões DEBATES
Apogeu e declínio do ciclo militar
JARBAS PASSARINHO.


O 31 de março de 1964 foi resultado de um clamor popular para a deposição de   João Goulart e hoje é tido como um golpe para usurpação do poder pelos   militares. Por quê?

Manchetes, em letras garrafais, de “Basta!” e “Fora João   Goulart”, da grande imprensa nacional, são hoje substituídas, nos mesmos   jornais, por ácidas críticas aos “anos de chumbo” do ciclo militar.   Por quê?

A massa humana de 1 milhão de pessoas, entre elas padres, bispos e o laicato   católico, em passeatas nas ruas de São Paulo, rezando por Deus e pela   liberdade, em março de 64, transformou-se no milhão de pessoas entusiásticas   que exigiam “Diretas Já!” em 1984. Por quê?
Nenhum democrata -e são tantos- pegou em armas contra o governo. Só os   comunistas, treinados e financiados em Cuba, fizeram-no. Antes Fidel Castro,   que os adestrava, era visto e repudiado como ponta-de-lança da União   Soviética nesta parte do hemisfério Sul, na exportação da revolução   comunista. Passou a ser venerado por Lula, antes de eleito nosso presidente,   e aplaudido quando se permite nos visitar. Por quê?
A igreja, que maciçamente apoiou o golpe preventivo -como o chamou Jacob   Gorender – , pouco a pouco se deixou dominar pela corrente da Teologia da   Libertação. Dom Paulo Evaristo Arns, que em 31 de março de 1964 foi ao   encontro dos mineiros, sublevados, para oferecer-lhes assistência religiosa,   veio a se transformar no cardeal símbolo da resistência organizada aos   governos dos generais. Por quê?


Tudo de bom que os militares fizeram pelo Brasil foi posto a perder.     Por quê?

Os dominicanos, que em Conceição do Araguaia homenagearam-me, governador do   Pará, em 1965, oferecendo-me pernoite, viriam a ter, na ordem, no Convento   das Perdizes, em São Paulo, uma célula comunista, com frades subordinados ao   líder Carlos Marighella. Por que tamanha mudança?

Os guerrilheiros e terroristas comunistas que desencadeavam a luta armada -e   a perderam por falta de apoio popular- são agora reverenciados com nomes de   ruas, placas comemorativas e indenizações bilionárias. Por quê?

Toda essa transformação terá ocorrido devido a sucessivos erros praticados no   ciclo militar.
O apoio da imprensa, perdemo-lo quando lhe foi imposta a censura e, por cima   disso, por censores despreparados, incapazes de distinguir uma notícia de um   recado para a guerrilha. Como a liberdade é para a imprensa o mesmo que o   oxigênio para a vida, a mídia não demorou a ficar contra o governo e a   adubar, habilmente, terreno para os líderes de oposição.
A igreja, minada pelos padres e bispos partidários da Teologia da Libertação   e da análise marxista do capital, não a perderíamos de todo se encarregados   de IPM inteiramente despreparados não indiciassem, como indiciaram, padres e   bispos como favoráveis à guerrilha, quando só os frades dominicanos tinham   codinomes, agindo na clandestinidade na luta armada.
No ciclo militar, já em 1967, eclodiram as guerrilhas comunistas. O Estado   respondeu fogo com fogo. Perdeu cerca de 200 combatentes. Filhos do povo,   soldados e civis, seguranças de embaixadores ou de bancos foram mortos   covardemente. Militares estrangeiros foram assassinados “por   engano”. Na “guerra suja”, crueldades foram praticadas de ambos   os lados, mas só vem a público a hediondez das torturas, que não eram uma   política de governo, nas deformações dos que esqueceram a Convenção de   Genebra, aprendida nas escolas militares. Preferiram seguir o exemplo dos   pára-quedistas franceses na Argélia.
Tudo de bom que os militares fizeram pelo Brasil foi posto a perder: a   modernização do país, a reforma universitária e de primeiro e segundo graus,   a expansão do ensino público, as muitas rodovias construídas e asfaltadas, o   espetacular crescimento da economia, alçada ao oitavo lugar do mundo, a   geração de empregos, a eficiência dos Correios e Telégrafos, a transformação   radical da telefonia – incapaz, em 64, de garantir uma linha urbana e que   veio, com o auxílio de satélites, a garantir não só a linha urbana, como a   DDD e a DDI. As hidrelétricas -Tucuruí, a maior do Brasil, e Itaipu, a maior   do mundo -, as aposentadorias dos trabalhadores rurais, que FHC disse ser o   maior projeto de renda mínima do mundo.
Por quê?
Primeiro, pela demora da devolução do poder aos civis, além de 1973. As   guerrilhas urbanas tinham sido esmagadas. A do PC do B não ameaçava a   segurança do Estado, isolada na floresta, com pequeno contingente e apoiada   apenas pela ridícula Albânia, pela rádio de Tirana, sem nenhum valor. Serviu,   porém, de pretexto para a continuação do ciclo militar.
Segundo, e especialmente, pela prática da tortura na repressão.
À vitória na luta armada, que prescindiria das atrocidades, seguiu-se a   derrota da batalha das comunicações, ganha pelos que escondem as felonias que   praticavam e hoje são quase deificados herdeiros de recompensas milionárias.


Jarbas Passarinho, 84, é coronel da   reserva. Foi governador do Pará (1964-65) e senador pelo Estado em três   mandatos (1967-74, 1975-82 e 1987-95), além de ministro da Educação (governo   Médici), da Previdência (governo Figueiredo) e da Justiça (governo Collor).

*atualmente com 94 anos de idade, o “Capitão” Passarinho, está muito doente.

Postado pelo Lobo do Mar