domingo, 6 de outubro de 2013

Este é o governo do PT

'My Love' (from 'Rockshow') - Paul McCartney And Wings

La Belle De Jour - ALCEU VALENÇA (SOM BRASIL

Vendo o Grito

Por Cardoso Lira



















Por Cristovam Buarque

A classe política passa a impressão de que viu, mas não ouviu, os gritos do povo. Eles provocaram um pequeno ativismo, como para dar satisfação com atos legislativos, mas sem gestos e leis que permitissem uma revolução que o povo deseja.

As manifestações foram sentidas com a emoção de quem vê o quadro do pintor norueguês Edvard Munch, representando uma pessoa gritando, em cima de uma ponte. O observador pode até sentir o grito que sai daquele rosto transtornado, mas não ouve porque o quadro está em outra dimensão, é uma representação, não é a realidade do grito. Da mesma forma, por indiferença de uns e incompetência de outros, os gritos não foram ouvidos.

Diversos fatos têm mostrado esta insensibilidade.

O povo foi às ruas querendo uma reforma radical, uma revolução na maneira como se faz política no Brasil. Em vez disso, propusemos uma minirreforma política, e nem ela foi concluída.

Nesta semana, quase 50 parlamentares mudaram de partido, não por discordâncias ideológicas, mas para tirar vantagens dos novos, em troca de oferecer tempo de televisão e dinheiro público do fundo partidário.

Ouvir as vozes, em vez de apenas ver a cara dos que estão nas ruas, exigiria, entre outras coisas, proibir coligações no primeiro turno; eliminar os fundos partidários com recursos públicos; proibir financiamento de campanha por pessoas jurídicas e limitar o valor das doações particulares; permitir apenas uma reeleição para todos os cargos eletivos; redefinir a forma de escolha de ministros do STF e do TCU; criação de mecanismos para cassação de mandatos pelo eleitor; possibilidade de candidaturas independentes sem filiação partidária; eleição por voto distrital de vereadores; limitar o horário eleitoral apenas às falas dos candidatos; fim do voto secreto e do voto de liderança, com votação aberta e nominal em todos os casos; adoção de consultas populares por meio de modernas tecnologias de comunicação; perda de mandato do parlamentar nomeado para cargos de ministro e de secretário; fim do recesso parlamentar e instituição de férias de 30 dias para os eleitos; registro dos compromissos de campanha; limitação de benefícios específicos da classe política; considerar falta de decoro o uso de serviços públicos por detentores de mandato; malha fina automática para ocupante de cargo público; e eliminação do foro especial.

Estas e outras propostas estão no Senado ou na Câmara de Deputados em forma de Projetos de Lei ou Propostas de Emenda à Constituição, mas não foram consideradas, porque os gritos foram vistos, mas não ouvidos.

Nos últimos 90 dias, centenas de pequenas manifestações foram realizadas, mas estas nem ao menos estão sendo vistas, como se não formassem uma ainda maior do que a de junho, sobretudo, pela lógica de que são organizadas como parte de uma imensa guerrilha cibernética do povo na rua, mobilizado pelos métodos que a internet permite.




Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).


Por Cardoso Lira

MARINA-CAMPOS 1 – Líder da Rede acerta ao acusar “chavismo” do PT e põe fim ao esforço de Lula para eliminar uma terceira força da disputa de 2014

Comecemos pela maior de todas as evidências: a entrada de Marina Silva no PSB, ainda que pro-tempore, demonstra como estavam errados, na situação e na oposição, os que tentaram definir os times dois anos antes do jogo. A observação vale para Lula e para FHC, para citar os respectivos técnicos do PT e do PSDB. ATENÇÃO! Estamos, neste sábado, a exato um ano do primeiro turno, marcado para o dia 5 de outubro de 2014. E se deu, desde que se fala no assunto, o fato mais importante do processo. Marina acaba de se filiar formalmente ao partido liderado por Eduardo Campos — segundo ela, trata-se do “Plano C” (“C” de Campos, entenderam?). Organizou-se, para tanto, uma cerimônia em que ambos discursaram. Se o observador se deixa levar pelo calor da hora, acaba concluindo que teve início uma marcha cujo desfecho é o triunfo. A tarefa é bem mais difícil do que parece. Chegarei lá em outro post. Destaco, como segundo dado relevantíssimo, uma crítica que Marina fez ao PT. Que dimensão ela vai tomar? É o que veremos no decorrer dos meses.
Na conversa que manteve com seus pares para tomar uma decisão, a ex-senadora, segundo revelaram interlocutores seus à imprensa, teria afirmado:
“Eu fiz esse acerto com o Eduardo Campos porque chegou a um ponto que eu não tinha outra alternativa. E o PSB é um partido sério. A minha briga, neste momento, não é para ser presidente da República; é contra o PT e o chavismo que se instalou no Brasil”.
Se Marina disse mesmo isso — e tudo indica que sim, porque as fontes variam, com conteúdo muito parecido —, então, pela primeira vez, eu a aplaudo. Eu, que não gosto das imprecisões de seus discursos, que considero que ela tem um pé no messianismo, que rejeito certas concepções de política que me parecem um tanto delirantes, afirmo: ela está certa ao apontar as tentações chavistas do petismo. Marina também teria dito que o PT tem mais de dois mil militantes espalhados na rede para desmoralizá-la.
É verdadeira a existência dessa máquina maligna, mas Marina não é seu único alvo. Qualquer força política que tenha a coragem de expressar um pensamento que o partido, ou seus esbirros, considerem contrários a seus interesses, passa a ser alvo dos ataques mais sórdidos: políticos de oposição, imprensa em geral e alguns jornalistas em particular. Nada escapa. A máquina de difamação dolosa, financiada por estatais e por gestões petistas, expressa o auge dos delírios totalitários do partido. Se uma das motivações de Marina para se juntar temporariamente ao PSB é a constatação de que é preciso vencer esse esquema criminoso, então a sua decisão tem o meu respeito e o meu apreço — ainda que eu não goste de quase nada do que ela diz, com especial ênfase para as suas preferências poéticas. Ocorre que a divergência sobre poesia é menos relevante do que as questões substanciais, e combater o chavismo petista é uma dessas questões substanciais.
Essa aliança, que ela chama programática — mas que é, no fundo, pragmática (já digo por quê) —, tem algumas implicações, que precisam ser pensadas.
1: Candidatura de Eduardo Campos ganha densidade
Parece evidente que, no terreno político ao menos — vamos ver como reagem os eleitores —, a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República ganha densidade política. Em muitos aspectos, Marina lhe fornece um conjunto de valores — coisa fundamental em política, como insisto há bem uns 20 anos — de que ele carecia. Embora o governador de Pernambuco tenha excelente trânsito na imprensa, circule com desenvoltura no mundo empresarial, lidere uma gestão muito bem avaliada em Pernambuco, eu não via, e ninguém via, por onde poderia excitar o imaginário do eleitorado. Dizer apenas que pode fazer melhor do que Dilma, que decide com mais desenvoltura, que é mais competente, bem, tudo isso, convenham, tinha muito pouco apelo.
2: Fratura do bloco hegemônico
Vocês sabem o que eu penso e o quanto lastimo a inexistência de um partido conservador forte no Brasil. Creio que está aí uma das raízes dos nossos desatinos. E esse partido inexiste justamente porque, exceção feita ao PT, as legendas brasileiras ou se perdem no administrativismo sem imaginação ou se entregam a miudezas fisiológicas — inclusive o PSB — sem apelar para conteúdos simbólicos, que marquem a adesão a uma visão de mundo. O PT comete, com ainda mais dedicação, garra e profissionalismo, todos os pecados da política, mas não se descuida dessa mística. Marina é uma liderança que se desgarrou do PT e que sabe operar essa tal esfera dos valores. Tanto é assim que a Rede, do ponto de vista ideológico, é um saco de gatos de várias cores, mas tem essa sacerdotisa que os une. Marina agrega à candidatura de Eduardo Campos um universo simbólico que, até havia pouco, ela não tinha.
Ora, pensemos um pouco: a ex-senadora vem do petismo; Campos, ele próprio, é uma das forças que se agregaram ao projeto petista. O que a eleição de 2014 pode trazer de inequivocamente novo é o racha do atual bloco hegemônico. Um pedaço dele — a frente ampla de esquerda que se formou em 2002, com agregados da direita — se descola da nave-mãe para buscar um voo solo. Se pensarem bem, a última vez em que se deu algo parecido no Brasil foi em 2002, quando o PFL resolveu se divorciar do PSDB. Todos saíram perdendo, muito especialmente o PFL, que, hoje com outro nome, beira a extinção — não só por aquilo, claro, mas foi o ato inicial.

Postado pelo Lobo do Mar

MPF quer retirar frase 'Deus seja louvado' das notas de reais