Por Cardoso Lira
O jornal britânico “The Guardian” desta quinta traz uma reportagem de Tom Phillips sobre a corrupção no Brasil, os esforços para banir os corruptos do serviço público, o trabalho da imprensa e a mobilização da sociedade contra os malfeitores. Na verdade, trata-se de uma reportagem sobre a importância que a revista VEJA tem nesse processo de depuração e de aprimoramento da democracia. A íntegra está aqui. O jornal entrevistou Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da revista e diretor editorial do “Grupo Veja”.
Segue uma tradução da reportagem, publicada pela VEJA Online:
De sua sala na redação instalada no 19º andar, Eurípedes Alcântara desfruta de uma vista espetacular do “novo Brasil”. Helicópteros atravessam o céu, carros novos abrem caminho pela cidade, arranha-céus e shoppings de luxo brotam no cenário urbano.
Mas Alcântara, um dos jornalistas mais poderosos do país, também não perde de vista o Brasil velho. Um país de negociatas, rinhas e corrupção endêmica que custam bilhões a cada ano e continuam a retardar a ascensão desse gigante sul-americano.
Como diretor de redação da influente e polarizadora revista VEJA, Alcântara acredita que é sua tarefa por um fim à baixaria. “É um choque de civilizações. Que tipo de país queremos ser?”, diz ele.
“A maioria das pessoas joga segundo as regras, trabalha de sol a sol e paga os impostos em dia. Mas há um grupo que vive se locupletando do estado, fazendo negócios com aqueles que têm as chaves do cofre. Combater a corrupção é nossa missão.”
O ano de 2011 vai entrar para a história brasileira como aquele em que Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente, subiu ao poder. Mas talvez ele também seja lembrado como aquele em que a frustração com a corrupção política sem peias finalmente transbordou.
Desde que Rousseff assumiu, em Janeiro, cinco ministros caíram por causa de escândalos éticos ou de corrupção - sendo o último deles Orlando Silva, ministro do Esporte que se demitiu na última quarta-feira, depois de VEJA denunciar seu envolvimento numa tramoia de 14 milhões de libras.
Protestos em todo o país, ainda que tímidos se comparados com os do Chile ou do Oriente Médio, levaram milhares às ruas, exigindo um fim à pilhagem do dinheiro público
Com a palavra corrupção na boca de todos, a imprensa brasileira desempenhou um papel fundamental na descoberta de malfeitos de alguns dos políticos mais poderosos do país. Em junho, o poderoso ministro da Casa Civil de Rousseff, Antonio Palocci, se viu obrigado a renunciar depois que o jornal Folha de S. Paulo revelou que sua fortuna pessoal havia se multiplicado por 20 em apenas quatro anos.
Três meses mais tarde, o mesmo jornal ajudou a destronar o ministro do Turismo Pedro Novais, que já havia sido acusado de usar dinheiro público para bancar uma farra em um motel chamado The Caribbean. A conta de Novais no motel - onde quartos equipados com piscinas, saunas e camas redondas custam 35 libras por três horas - ficou em 767 libras.
Reportagens de VEJA, enquanto isso, derrubaram o ministro da Agricultura Wagner Rossi, acusado de malversar dinheiro público, o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento - com o relato de um esquema de propinas em sua pasta - e o ministro do Esporte nesta semana.
“Os políticos dizem: ‘Quando recebo um telefonema de VEJA é sinal que a minha vida vai piorar’”, diz Alcântara com um sorriso logo interrompido. “Mas isso não me dá prazer… Não vejo isso como uma vitória.”
“Não se trata de uma campanha… mas é uma obsessão”, acrescentou o editor de 55 anos, cuja revista mais recente trouxe na capa a manchete Dez Motivos Para se Indignar com a Corrupção. A reportagem observa que os 85 bilhões de reais de dinheiro público surrupiados a cada ano poderiam erradicar a pobreza, construir 1,5 milhão de casas - ou comprar 18 milhões de bolsas de grife.
Alcântara - cuja revista tem circulação de 1,2 milhão de exemplares e algo entre 6 e 10 milhões de leitores - admite que a maioria dos furos de VEJA sobre corrupção tem origem em “dicas” de pessoas que, com frequência, estão elas mesmas implicadas no submundo da política brasileira.
“Não temos uma Delta Force. Temos antenas”, ele disse, referindo-se às redações da revista em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a capitas do país, onde um total de 78 repórteres devem manter seus olhos e ouvidos atentos a sinais de negociatas, estejam cobrindo ciências, transportes ou arte.
Separar a política de VEJA de sua cruzada anticorrupção é uma tarefa complexa.
A revista é detestada pela esquerda brasileira, que afirma que ela tem um viés inerentemente contrário ao PT, que está no poder, e seus aliados, prestando atenção excessiva aos pecadilhos dos políticos dessas agremiações, enquanto ignora os deslizes de seus amigos.
Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro presidente brasileiro de origem operária, teve um relacionamento particularmente turbulento com a revista em seus oito anos de mandato. “Vamos ser francos, alguns jornalistas dE VEJA merecem um Nobel por irresponsabilidade”, disse Lula em 2006, depois de uma reportagem afirmar que ele e seus aliados tinham contas secretas em paraísos fiscais. “VEJA não publica acusações. Ela publica mentiras.”
Alcântara reserva termos mais simpáticos para Rousseff, a sucessora de Lula, que deu início ao que se tem chamado de “faxina”, demitindo seis ministros em dez meses no poder.
“Parece-me que ela é muito mais intolerante com a corrupção do que Lula”, diz ele. “Dilma, nas palavras e nos atos, mostrou muito menos tolerância e muito mais compreensão da desgraça que é a corrupção nesta país. Existe agora uma percepção muito forte, e creio que aqui podemos incluir a presidente, de que esse tipo de extorsão é inaceitável.”
A reação de Rousseff à corrupção e a cobertura constante da imprensa fomentou uma série de protestos pelo Brasil.
“Como pode um país tão rico e grande ter níveis semelhantes de pobreza? Uma das explicações, sem dúvida, é a corrupção endêmica e histórica”, disse Antônio Carlos Costa, diretor da ong antiviolência Rio de Paz, em um evento recente que reuniu 2500 pessoas.
“Falamos de algo que atravessa todas as esferas de poder. Vai dos narcotraficantes ao Congresso. Polui tudo, solapa nossas relações. Só é possível combater esse problema com dedicação e perseverança.”
Natalia Lebeis, 23 anos, também se uniu ao protesto - vestida de palhaço.
“Dizem que os brasileiros só saem às ruas para assistir ao futebol ou ao carnaval”, diz ela. “Nós somos a voz da nação. Chegou a hora de as pessoas mostrarem seu rosto e protestarem contra a corrupção e a impunidade.”
Alcântara, que já foi correspondente em Nova York e acaba de assinar uma entrevista de três páginas com o cantor Neil Youg, lembrou-se de Paul McCartney para capturar seu sentimento sobre as chances da guerra contra a corrupção ser vencida no Brasil.
“É um cabo-de-guerra”, disse ele, referindo-se à canção de 1982 do ex-Beatle. “Um cabo-de-guerra entre aqueles que desejam nos arrastar de volta para o século XIX e aqueles que tentam nos levar ao século XXI. Sou um otimista - acredito que o século XXI vai vencer.”
Comento
Infelizmente o povo brasileiro ainda não acordou desta inércia profunda; quando a maioria das pessoas tiverem conciência política, jamais irão colocar no poder, políticos tão corruptos e abomináveis como estes, que hoje se encontram no poder da República, com o propósito de se locupletarem do erário público ou ainda enriquecer ilicitamente. Como a nossa República pode conviver com tanta corrupção, tantos bandidos e malfazejos?
Pessoas que deveriam dar exemplo, são as primeiras a cometer crimes hediondos, são pessoas sem ética, sem moral e sem escrúpulos.
Depois dos malfeitos e dos crimes que derrubaram seis ministros por corrupção e bandidagem Dilma resolve obedecer a lei.
Abalado com a sucessão de escândalos que já causou o afastamento de seis ministros em menos de um ano, o corrupto governo federal resolveu adotar um conjunto de medidas para fechar os ralos da corrupção e desvio de dinheiro público por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs) e impedir a indicação de políticos fichas sujas como ministros e altos dirigentes públicos.
A informação foi dada hoje pelo ministro chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage. A ideia, segundo Hage, é reproduzir nas nomeações do poder Executivo a lei da ficha limpa, que veta candidaturas a cargos eletivos de políticos processados ou condenados judicialmente. Daqui por diante, os próprios ministros terão de assinar os convênios de sua Pasta e não mais delegar a gestores e secretários. Os convênios só poderão ser firmados com ONGs idôneas e com experiência mínima de três anos na área, escolhidas mediante chamamento público.
As ratazanas sujas e vermelhas, que povoam os becos mais imundos do Distrito Federal, estão sempre buscando um meio de roubar o erário público. Ainda bem que temos alguns meios de comunicação atentos, as safadezas desta máquina de crimes que se encontra no poder da república.
3 comentários:
Gastos acumulados pelo Esporte sob o comando do PC do B beiram R$ 5 bilhões
Por Marta Salomon, no Estadão Online:
Emendas parlamentares que destinam dinheiro público para as bases políticas de deputados e senadores por meio de convênios - sobretudo para a construção de quadras esportivas - são o motor do Ministério do Esporte. Recém-separada do Ministério do Turismo, a pasta foi entregue ao PCdoB em 2003 e, desde então, seus gastos ultrapassam R$ 5 bilhões.
Projeções feitas pelo Ministério do Planejamento para o ano que vem mostram que os investimentos e despesas do Esporte vão se multiplicar, na carona de eventos mundiais. Só os jogos olímpicos receberão em 2012 R$ 835 milhões.
O ritmo de gastos nos últimos oito anos e nove meses desenha uma curva cujo ápice coincide com a realização dos jogos Pan Americanos de 2007. A explosão de gastos nos jogos aumentou as preocupações com realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, eventos que dão maior visibilidade ao ministério. Em 2007, os gastos estimados em R$ 409 milhões saltaram para R$ 3,7 bilhões, em meio a denúncias de superfaturamento nas obras do Pan.
“Chefe de quadrilha” e deputado cassado por corrupção defende Fernando Haddad
A última pessoa que defendeu a permanência de Orlando Silva no Ministério do Esporte foi o “chefe de quadrilha” (segundo a Procuradoria Geral da República) e deputado cassado por corrupção José Dirceu.
Pois bem.
Ele arrumou agora uma nova causa: a defesa de Fernando Haddad. Segundo o preclaro, “o MEC e o ministro não podem e nem devem ser responsabilizados por fraudes ou tentativas de fraude”.
Claro, tudo culpa dos cearenses!
A qualidade do advogado revela a justeza da causa.
"O futuro cobrará justiça, daqueles que tentaram falsificar a própria história". (Cardoso Lira)
Globalitarismo e Geopolítica
Muito bem, sabe de uma coisa? Acreditar ou ignorar as teorias da conspiração, faz diferença mesmo! É um traço determinante da maneira como percebemos a realidade, fundamental para guiar escolhas individuais e lideranças, nas atividades religiosas, laborais ou políticas. Ignorar é como fechar os olhos para barata e engulir a sopa.
Emblemática à parte, na última década estamos assistindo mudanças, que nunca antes na história deste país, haviam sido vistas. A politicagem dos petistas, a corrupção e a bandidagem se torna princípio, meio e fim de uma Era.
Saímos de Peixes e entramos em Aquárius; e o dilema que não se resolve por si mesmo. Ou os oportunistas corruptos conquistam poder para arrumar muito dinheiro, ou arrajam muita grana para se tornarem cada vez mais poderosos.
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