Por Cardoso Lira
Apontado pela Polícia Federal como chefe da máfia dos pareceres, o
ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Rodrigues Vieira
quer agora negociar uma delação premiada com o Ministério Público.
Vieira ameaça contar detalhes do esquema e envolver novos personagens no
escândalo revelado pela Operação Porto Seguro, que também derrubou a
então chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.
Em conversas reservadas, o ex-diretor da ANA disse que não sairá do
caso como chefe de quadrilha e promete denunciar gente “mais graúda”.
Com isso, ele espera obter do Ministério Público um tratamento menos
severo e empurrar para outros a posição de comando do grupo, que
praticava tráfico de influência nos bastidores do poder. Na prática,
quer algum benefício legal no futuro, como a redução de pena, caso seja
condenado.
Vieira trocou o advogado Pierpaolo Bottini pelo defensor Michel
Darre, no intuito de apresentar uma estratégia mais agressiva de defesa.
Bottini afirmou que deixou o caso por motivos pessoais. Darre, por sua
vez, disse que ainda está estudando o processo. “Há muita coisa a ser levantada e eu pedi a meu cliente para ter
paciência”, comentou o advogado. “Entrei no processo para verificar qual
a melhor medida a ser tomada.”
O ex-diretor da ANA foi indiciado pela Polícia Federal por crimes de
corrupção ativa, falsidade ideológica, falsificação de documento
particular e formação de quadrilha. Ele e seu irmão Rubens deixaram a
prisão no último dia 30, beneficiados por habeas corpus. Rubens era
diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e atuava como
consultor jurídico do grupo, que tinha ramificações na Advocacia-Geral
da União (AGU) e em várias repartições públicas, para venda de pareceres
fraudulentos a empresários. Um dos “clientes” era o ex-senador Gilberto
Miranda (PMDB).
A Polícia Federal suspeita agora que Rosemary Noronha, também
indiciada, e os irmãos Vieira tenham praticado lavagem de dinheiro para
ocultar bens adquiridos de forma ilícita. Rose foi nomeada pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - de quem é muito próxima desde
os anos 90 - e conseguiu com ele a indicação de Paulo e Rubens para as
agências reguladoras.
Em e-mails trocados com Paulo, Rose se referia a Lula como “PR” e
pedia dinheiro. Nessas mensagens, expressões cifradas como “livros”,
“exemplares” e “volume” eram usadas para designar verba. Investigações
da PF mostram que a máfia dos pareceres financiou para Rose um cruzeiro
(R$ 2,5 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7,5 mil), um Pajero (R$ 55
mil), móveis para a filha (R$ 5 mil) e o pagamento da dívida de um carro
de seu irmão (R$ 2,3 mil), além de outras despesas.
Gilberto Miranda entrou no esquema para conseguir vantagens e
aumentar o lucro de seus negócios. O ex-senador se beneficiou da compra
de pareceres para a ocupação de duas ilhas: a de Bagres, em Santos, e a
de Cabras, em Ilhabela, onde construiu uma mansão. Foi na ilha de
Bagres, área de proteção permanente, que Miranda obteve aprovação de um
projeto para a construção de um complexo portuário, em 2013, no valor de
R$ 2 bilhões.
A presidente Dilma Rousseff está preocupada com os desdobramentos do
caso, que também derrubou José Weber Holanda, até então braço direito do
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Weber atuava com Paulo para
ajudar Miranda. Antes de anunciar o pacote dos portos, na semana passada, Dilma
convocou uma força-tarefa para fazer um pente-fino nas medidas e evitar
surpresas. Até a crise, Adams era cotado para ocupar uma vaga no Supremo
Tribunal Federal. Hoje, está desgastado.
Na Esplanada, ministros temem que a análise de computadores
apreendidos no escritório da Presidência, em São Paulo, envolva novas
repartições no escândalo. Depois do depoimento do empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República, apontando o
dedo para Lula no mensalão, sem provas, petistas estão apreensivos com a
escalada de denúncias.(Estadão)
Postado pelo Lobo do Mar
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