quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Calígula dava ordens à Lua e lhe fazia ameaças; Lula redesenha a Terra. Ou: O Apedeuta, como Saturno, decidiu engolir a própria cria

Por Reinaldo Azevedo

É Saturno engolindo uma de suas crias, na versão terrificante de Goya. Por que está aqui? Vamos lá.
Lula é um logólatra. Mas não é fissurado num “logos” qualquer. Ele também é um “lulólatra”. É apaixonado pelo som da própria voz. Às vezes, a gente nota, ele se deixa encantar pela complexidade do próprio pensamento, que alcança sempre altitudes ignotas. Foi assim, por exemplo, quando refletiu sobre a conveniência de a Terra ser quadrada, não redonda. Vale a pena rever.
Num programa da VEJA.com, lembrei essa diatribe astrometafísica de Lula e uma outra frase sua não menos sensacional, quando demonstrou certa invejinha de Dilma porque ela teria tido a sorte de suceder a alguém como ele…
Já identifiquei a doença de Lula, que o citado Freud não teve tempo de diagnosticar. É a SIPP (Síndrome da Inveja do Próprio Pênis). Lula se ama de tal sorte que adoraria ser… Lula, como Narciso que mergulha em busca da própria imagem. Certos governantes têm dessas coisas.
Lembrei aqui certa feita como Suetônio caracterizou o imperador Calígula em “Os Doze Césares”. Leiam um trechinho que traduzi (em azul). Vale a pena: (…) Mas lhe disseram que era superior a todos os príncipes e reis da Terra, e então começou a atribuir a si mesmo a divina majestade. Fez trazer da Grécia as estátuas dos deuses mais famosos (…) entre elas a de Júpiter Olímpico, da qual cortou a cabeça para substituir pela sua própria. Estendeu até o Fórum uma ala de seu palácio e transformou o templo de Castor e Pólux num pátio, sentando entre os dois irmãos, oferecendo-se à adoração da multidão. Alguns o saudavam como Júpiter Latino. Teve, para a sua divinização, o seu próprio templo, sacerdotes e as oferendas mais raras. Nesse templo, podia-se contemplar sua estátua de ouro (…). As vítimas sacrificadas a este deus eram flamingos, pavões, codornas, galinhas da Numídia, galinhas d’angola, faisões — a cada dia uma espécie diferente. À noite, quando a Lua estava cheia, ele a convidava a vir receber o seu abraço e a compartilhar seu leito. Durante o dia, mantinha conversações secretas com Júpiter Capitolino, falando-lhe algumas vezes ao ouvido (…). Em outras, falava ao deus com arrogância e em voz alta. Certa vez, ouviram-no dizer a Júpiter em tom de ameaça: “Prove o seu poder ou tema o meu!” (…)
Como não ver, assim, o ímpeto de Calígula no homem que resolve meter os pés na porta do governo e roubar da presidente a coordenação política? Cortou a cabeça dela; pôs a dele no lugar. Ele é assim.
60 dias calado
Pois é… O ególatra, logólatra e lulólatra, desta feita, está mudo — mas não parado. Há 60 dias, observa Jean-Philip Struck na  VEJA.com não diz uma palavra sobre o Rosegate, por exemplo, aquele rumoroso caso que pôs Rosemary Nóvoa Noronha, a sua “amiga íntima”, no centro de um azeitado esquema de corrupção instalado na… Presidência da República. Não fala a respeito, mas tem ouvido muito, especialmente no ambiente doméstico, o que é compreensível.
O homem que já fez digressões sobre as vantagens de a Terra ser um quadrilátero se dedica agora a criar um novo regime político no Brasil: o “Lulismo Mitigado”. Ele até topa dividir o poder com Dilma: ela fica com a parte chata — ver se o governo desempaca —, e ele, com a coordenação política. Lula não gosta mais da criatura que gerou e decidiu, como Saturno, engoli-la. Como no mito, teme que que surja alguém mais forte que ele. Haverá alguém de peito para fazê-lo engolir uma pedra? Não sei.
Uma coisa é evidente e certa: Lula decidiu tomar à força o governo de Dilma Rousseff. Deixa claro, assim, que nem mesmo a legitimidade popular que ela tem — eleita que foi — e que pode ser referendada pelo povo, se reeleita, supera a autoridade natural daquele que, a exemplo de Calígula, se sente com força para interferir nas esferas celestes.
Lula deixa claro, assim, o apreço que tem pelo mandato popular. Convenham: isso não é estranho à sua trajetória. Passou 16 anos — oito como oposição e oito como governo — tentando destruir a reputação de FHC, que tinha sido, afinal, eleito pelo povo.
Saturno, como carcará, pega, mata e come.

Postado pelo Lobo do Mar

3 comentários:

Cardoso Lira disse...

Dono da Dilma diz que ela fica.

Agora é "oficial". Os três mais próximos colaboradores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desmancharam o sonho secreto, ou nem tanto, de muitos petistas de ver o primeiro companheiro disputando novamente o Planalto em 2014. Provocados pelos jornalistas, os ex-ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Paulo Vannucchi (Direitos Humanos), além do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, foram categóricos ao afirmar que não passa pela cabeça do chefe fazer da sucessora Dilma Rousseff presidente de um mandato só. Ele a escolheu, impôs o seu nome ao partido, percorreu o País divulgando o seu aval à candidatura da ministra praticamente desconhecida, elegeu-a - e não pretende removê-la.


Desde então, Dilma consultou o mentor inumeráveis vezes, sem contar as ocasiões em que a iniciativa partiu dele. O tumor na laringe que o acometeu ano passado apenas diminuiu temporariamente a intensidade da sua curadoria. Mesmo quando atingido por sucessivas más notícias - o resultado do julgamento do mensalão; as traficâncias do pessoal ligado à então chefe do escritório da Presidência em São Paulo, sua namorada Rose; e a acusação do publicitário Marcos Valério de que ele não apenas aprovou o esquema de compra de votos, mas tirou uma casquinha da dinheirama envolvida -, Lula ficou na muda, mas não inativo politicamente. Agora há pouco voltou com a corda toda.

Orientou Dilma a se entender com o empresariado para emergir das "dificuldades", segundo o eufemismo empregado por Paulo Okamotto para se referir ao pibinho de 2012, ditou as diretrizes da recém-iniciada gestão de Fernando Haddad - o segundo poste que alçou ao poder - na Prefeitura de São Paulo e fez saber que tornará a viajar pelo Brasil, numa versão atualizada das suas Caravanas da Cidadania na década de 1990. Somou-se a isso a inquietação difusa no PT com os possíveis efeitos do raquitismo econômico para as chances reeleitorais da presidente (que, por sinal, só se filiou ao partido em 2001, passados 30 anos de sua fundação) para avivar a hipótese Lula-14. O cenário Lula-18 não foi de todo excluído por seus auxiliares.

Não se sabe se alguma vez padrinho e apadrinhada conversaram sobre a eventualidade de ela desistir da busca do segundo mandato. Tampouco se sabe se eles se desavieram por causa disso. De todo modo, caso algo do gênero tenha ocorrido, seriam águas passadas - e o PT que trate de trabalhar para manter no Planalto a companheira que jamais seria a sua primeira escolha para suceder a Lula, o presidente que formava com o partido uma entidade una. Ele, por sua vez, se empenhará naquilo em que é, aí sim, insubstituível - articular a "segurança política" para a reeleição. Ou seja, consolidar a aliança PT-PMDB e dissuadir o PSB de alçar voo próprio, com a eventual candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Ocupando a vice-presidência da República e devendo eleger em fevereiro, como combinado ainda no tempo de Lula na chefia do governo, os titulares da Câmara e do Senado para o biênio 2013-2015, Henrique Alves e Renan Calheiros, o PMDB acumulará nesta segunda metade da presidência Dilma amplos poderes - cacife que Lula decerto levará em conta na operação em que, segundo o assessor Paulo Vannuchi "jogará toda a sua energia". Curioso o quadro político atual: o jogo sucessório não assume a forma de um confronto entre situação e oposição; é jogado exclusivamente nas mesas do governo.


Editorial do Estadão de hoje, intitulado "Lula e Dilma, jogo jogado".

Cardoso Lira disse...



Lula não fala da "treta" com Rose.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta muito de falar. Acostumado aos palanques e microfones, ele costuma dar opinião sobre os temas mais diversos, além da política – como futebol, por exemplo. Nos tempos de Palácio do Planalto, também era comum responder aos repórteres que o cercavam em eventos, com raras exceções em tempos de crise política.

Há exatos dois meses, entretanto, Lula tem evitado contato direto com a imprensa. Nesse período, duas notícias mexeram com o humor e acuaram Lula. A primeira delas ocorreu no dia 23 de novembro do ano passado, com a revelação de que Rosemary Noronha, sua mulher de confiança, estava envolvida no esquema de fraudes e desvios desmontado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro.

Em seguida, 20 dias depois, Lula teve seu nome mais uma vez arrastado para o noticiário: o jornal O Estado de S. Paulo revelou o teor do depoimento de Marcos Valério, o operador do mensalão, ao Ministério Público. Segundo o publicitário, o dinheiro do esquema criminoso foi usado para pagar despesas pessoais do ex-presidente.

Desde que os casos vieram à tona, o ex-presidente não concedeu nenhuma entrevista para tratar dos temas, apesar de manter intensa agenda de palestras, premiações, reuniões com aliados políticos e até jogos de futebol – ele estava na tribuna da partida entre São Bernardo e Santos, pelo Campeonato Paulista, no último final de semana. A exceção foi a entrevista (“chapa branca”) à TV dos Trabalhadores,controlada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Além dos eventos montados para manter a imprensa longe do presidente, Lula tem embarcado em uma série de viagens para receber homenagens. Numa dessas viagens, à Alemanha, jornalistas conseguiram furar o cerco dos assessores e questionaram o ex-presidente sobre os escândalos. ”Não, não fiquei surpreso”, disse Lula, no dia 7 de dezembro, ao ser questionado sobre a operação da Polícia Federal. E foi só. Quatro dias depois, em Paris, ele foi novamente questionado por jornalistas, dessa vez sobre as declarações de Marcos Valério. “Não posso acreditar em mentiras, não posso responder mentiras”. E novamente foi só.

No próximo dia 29, Lula visitará o colega Raúl Castro em Cuba, lugar bastante propício para manter o silêncio. ( Da Veja)

Cardoso Lira disse...



O primeiro estelionato eleitoral de 2014.
Sabem por que Dilma fez questão de anunciar rapidamente a queda de 18% na conta de luz? Simples. Nos próximos dias, as distribuidoras anunciarão os aumentos anuais nas tarifas. O resultado, segundo projeções do Banco Central, é de que a redução real seja de 13% ou 14%. É, sem dúvida, o primeiro estelionato eleitoral de 2014.

Rose diz que vai levar "idéias" para Lula melar julgamento do Mensalão. Ouça os grampos da PF.
A partir deste sábado, 26, estão disponíveis no site estadão.com.br áudios de diálogos da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha - que chegou ao cargo pelas mãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, do ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, e do ex-senador Gilberto Miranda. As conversas que sustentam o inquérito da PF indicam os passos do grupo nas entranhas do poder.