A presidente Dilma Rousseff encomendou a um seleto grupo de ministros
do PT a apresentação de metas prioritárias para os dois últimos anos do
governo. Com tropeços na gestão, problemas na economia e dificuldades
na articulação política, Dilma corre para construir marcas de governo
que pavimentem sua candidatura à reeleição, em 2014, embalada pelo mote
do desenvolvimento estratégico.
As metas pedidas pela presidente para a segunda metade do mandato
também envolvem perspectivas de longo prazo. Pressionada pelo baixo
crescimento da economia no ano passado, que deve ficar próximo a 1%,
Dilma aposta que medidas tomadas em 2012 para baixar os juros, ajustar o
câmbio, reduzir impostos, diminuir a dívida pública e cortar o preço da
energia elétrica terão impacto a partir de abril.
Até agora houve apenas uma reunião com os ministros Guido Mantega
(Fazenda), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Fernando Pimentel
(Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento) e Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência), em dezembro, quando Dilma tratou da
necessidade do plano estratégico. Antes disso, no entanto, ela conversou
com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o marqueteiro João
Santana, que será o responsável pela campanha da reeleição.
Pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicam que falhas no
sistema de saúde e na segurança pública figuram entre as maiores queixas
dos eleitores. Embora segurança seja da competência dos Estados, o medo
provocado pela violência nas grandes cidades atinge de forma negativa o
governo federal.
Além disso, a imagem de boa gestora de Dilma começa a ficar embaçada.
Em um ano pré-eleitoral, o desafio da presidente é tirar projetos de
infraestrutura da prateleira e atrair investimentos. No fim de 2012, ela
anunciou um pacote de concessões em rodovias, ferrovias, portos e
aeroportos que ultrapassa R$ 200 bilhões, mas investidores ainda têm
dúvidas sobre a segurança jurídica para tocar projetos.
Para a oposição, expressões como "destravar os nós" e
"competitividade" viraram moda no governo, mesmo sem o figurino sair do
papel. "A prática é outra: está tudo travado", provoca o líder do PSDB
no Senado, Álvaro Dias (PR).
Dilma quer agora atenção redobrada ao Sistema
Informatizado de Monitoramento da Presidência. Há 45 programas sob
vigilância, como antecipou o Estado, e uma equipe de 30 técnicos da Casa
Civil fiscaliza o andamento dos serviços, muitas vezes em tempo real. A lista é composta por projetos que não podem dar errado, como os
estádios da Copa de 2014. Mesmo assim, das 82 obras de mobilidade
urbana, portos e aeroportos, prometidas para a Copa, apenas três
permanecem com cronograma inalterado.
"Aqui nós temos tudo em detalhes, com endereço, CIC, RG e
acompanhamento fotográfico", afirma o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, ao comemorar investimentos de quase R$ 10 bilhões no ano
passado. "O MEC é assim: vem que tem."
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, passou as duas últimas
semanas revisando metas. Dilma cobrou resultados mais rápidos,
principalmente em relação ao atendimento nos hospitais. A ordem é para
que o SOS Emergências alcance os 40 maiores prontos-socorros até 2014.
Padilha e Mercadante se movimentam nos bastidores para disputar a
indicação do PT à vaga de candidato ao governo de São Paulo, em 2014. Em
público, porém, não admitem a intenção. "Esqueçam de mim. Tenho muita
coisa para fazer no ministério. A saúde
demora a ter resultado e eu sou muito novo ainda. Posso esperar", diz
Padilha. "A chance de eu pensar nisso agora é zero. Estou focado no
MEC", desconversa Mercadante.
Diante de tantos percalços na economia e com o fantasma da inflação à
espreita, os indicadores de emprego e renda seguram a popularidade de
Dilma. "Trabalhamos para que a geração de emprego volte a rodar na casa
de 2 milhões por ano", prevê o ministro do Trabalho, Brizola Neto.
Mais do que indicadores, no entanto, Dilma pretende exibir, na
campanha da reeleição, metas da "vida real". É com esse argumento que
ela quer consolidar marcas de governo. "Não podemos perder 2013 para
fazer deslanchar a máquina pública", insiste o senador Jorge Viana
(PT-AC). (Estadão)
Postado pelo Lobo do Mar
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