Por Cardoso Lira
O sofisticado esquema mensaleiro, que faz aqueles crimes mal julgados no Supremo Tribunal Federal parecerem mero roubo da galinha estatal, prepara mais uma jogada bilionária. Os recursos desviados dos cofres públicos, nas mais variadas formas legalizáveis, vão inundar o mercado, lavando ou esquentando dinheiro, na hora em que o BNDES Participações começar a venda de parte de seus R$ 87,9 bilhões em ativos acionários de grandes empresas.
O Governo ainda não definiu o valor dos ativos que serão vendidos. Os corruptos brasileiros, junto com grandes investidores internacionais, já estão prontos para a ida às compras. Assim funciona o Capimunismo no Brasil. Bancado pelo Tesouro Nacional, que desde 2009 já lhe repassou R$ 300,2 bilhões o BNDESpar entra na formação das empresas – inclusive negócios de risco. Depois, quando interessa aos esquemas mafiosos, anuncia-se a venda das participações acionárias, como se fosse a operação privatizante mais honesta do mundo.
Os megaesquemas de corrupção fazem a festa, esquentando ou lavando o dinheiro desviado dos cofres públicos ou ganho em comissões milionárias de negociatas com prestadores de serviço, fornecedores de produtos ou empreiteiros que fazem negócios com governos, nas esferas Federal, Estadual e municipal. O esquema só seria descoberto se a Receita Federal, respaldada em ordem judicial, fizesse uma operação pente fino na evolução patrimonial nos parentes e pessoas próximas a quem trabalha na máquina pública tupiniquim.
O problema é que o Ministério Público e a Justiça não têm mecanismos legais para fiscalizar e coibir tal sistema sofisticadamente mafioso. Em quase todas as operações de grandes fusões ou aquisições de empresas, os capitais mensaleiros entram pesadamente, dispersos em “investidores” que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não consegue detectar. Um dia, de repente, alguém é midiaticamente pintado como “brilhante empreendedor”.
As máfias usam parentes de políticos ou “laranjas” de confiança para entrarem como “aplicadores” nos negócios de ponta. Grandes empresários, por conivência e conveniência, fazem vistas grossas para o jogo sujo. Seguem aquele velho ditado do Imperador Tito Flávio Vespasiano (9 a 79 DC) a seu filho: “Dinheiro não tem cheiro”. É nesta conjuntura fétida de corrupção que o capimunismo de Bruzundanga fabrica seus pretensos empreendedores ou falsos heróis do empresariado.
O crescimento das fortunas corruptamente construídas ajuda a alimentar novos negócios e constantes “investimentos” – principalmente no ano que antecede eleições. Este é o momento em que os esquemas mafiosos aproveitam para aplicar a grana que alimentou o “caixa 2” das campanhas anteriores. Assim, a corrupção ganha ares capimunistas. Aparentemente, tal ciclo de safadeza não terá fim no Brasil – a não ser que haja uma milagrosa revolução moral, cultural e econômica para transformar o Bruzundanga em um País capitalista de verdade.
Como tal projeto não interessa às “zelites” (como diria o chefão $talinácio), nada vai mudar e os corruptos se tornarão cada vez mais ricos e poderosos em nosso Capimunismo burramente selvagem.
No Brasil, prefere-se fingir que a corrupção tem corruptos e corruptores. Assim, ninguém é punido e todos participam dos esquemas. Eis mais uma Maldição de Bruzundanga – um País Capimunista dos infernos.
A Casa da Mãe Joana
“Casa da Mãe Joana” é uma expressão popular que significa "o lugar onde todos mandam", sem organização, onde cada um faz o que quer.
A expressão teve origem no século XIV. Foi criada graças a Joana I - rainha de Nápolis e condessa de Provença, que viveu entre 1326 e 1382. Teve uma vida conturbada e em 1346 mudou de residência para Avignon, na França. Alguns autores afirmam que esta mudança ocorreu porque Joana se envolveu em uma conspiração em Nápoles que resultou na morte de seu marido André, enquanto outros indicam que Joana foi exilada pela Igreja por viver de uma forma sem regras e permissiva.
Ex-petista, Danevita Ferreira de
Magalhães era gerente do Núcleo de Mídia do Banco do Brasil quando, ainda em
2004, foi instada a participar de uma fraude para justificar a remessa de nada
menos que 60 milhões de reais às arcas do empresário Marcos Valério Fernandes
de Souza, o caixa-forte do mensalão. Ela não se curvou à ordem. Por isso,
foi demitida e viu sua vida virar
de cabeça para baixo. Ameaçada de morte e vivendo de favor na
casa de amigos, Danevita é agora uma testemunha-chave do Ministério
Público Federal para provar que o mensalão foi abastecido, sim, com dinheiro
público. Entre 1997 e 2004, Dane, como é carinhosamente chamada pelos poucos
amigos que lhe restaram, coordenou o núcleo do Banco do Brasil que administrava
os pagamentos às agências de publicidade contratadas para fazer a propaganda da
instituição e de seus produtos. Por esse núcleo, formado por representantes das
agências, passava todo o papelório necessário para liberar os mais de 180
milhões de reais gastos a cada ano nas campanhas publicitárias do
banco.
Foi no momento de assinar um desses documentos
que Danevita viu sua carreira desmoronar. O papel fugia completamente aos
padrões. Tratava-se de uma ordem para chancelar um pagamento de 60 milhões de
reais à DNA Propaganda, uma das empresas do mineiro Marcos Valério que
abasteceram o mensalão. Detalhe: o dinheiro já havia sido repassado para a DNA,
e o documento só serviria para atestar, falsamente, a veiculação de uma campanha
fictícia que nunca fora ao ar. Uma fraude completa. A assinatura de Danevita era
necessária para legitimar a operação. À Polícia Federal, ela disse que um dos diretores da DNA
admitiu, na ocasião, que o serviço jamais seria prestado. Ato contínuo à
decisão de negar a assinatura que tanto valeria a Marcos Valério e ao esquema
que já no ano seguinte ficaria conhecido como mensalão, veio a demissão. “Como
não assinei, fui demitida”.
Por Reinaldo Azevedo-
Revista VEJA
Postado pelo Lobo do Mar
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