Por Cardoso Lira
Criado para fornecer ao público o acervo pessoal do ex-presidente da
República, o Instituto Lula virou um gabinete paralelo de poder do PT em
São Paulo. Do sobrado de vidros escuros, vigiado por câmeras e
protegido por cerca elétrica no bairro Ipiranga, zona sul da capital, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva define estratégias e toma
decisões que sobrepõem, muitas vezes, a própria instância partidária.
Foi dali que Lula traçou boa parte das estratégias eleitorais do PT nas
eleições municipais. Dali também conteve, semana passada, o ímpeto de
alguns petistas de divulgar um manifesto em defesa dos condenados no
julgamento do mensalão. Na noite da última quarta-feira, Lula recebeu
no instituto o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente
do PT José Genoino e convenceu ambos de que não se tratava do momento
ideal para manifestações.
A instituição foi criada com base na Lei 8.394/91, que atribui a
ex-presidentes a responsabilidade de tornar acessível ao público o
acervo privado obtido no exercício do cargo. Pelo estatuto, trata-se de
algo "apartidário e independente de partidos políticos". No início da
disputa eleitoral, a estrutura foi ampliada com o aluguel de um sobrado
vizinho para a instalação de um estúdio.
O prédio de três pavimentos tem área de lazer com piscina. No local foi
gravada a propaganda para candidatos petistas de mais de 90 cidades,
com participação de Lula - foi uma maneira de facilitar sua aparição em
programas de TV, já que o ex-presidente se recupera do tratamento
contra um câncer na laringe.
Na terça-feira passada, a agenda privada do ex-presidente incluiu as
visitas do megaempresário Eike Batista e do ex-ministro da Justiça
Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do "mensalão". Reuniões
partidárias com as presenças de dirigentes petistas, como o presidente
nacional Rui Falcão, o secretário geral de Organização Paulo Frateschi e
o líder do partido na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto, costumam
avançar a noite.
Com a eleição de Fernando Haddad em São Paulo, o instituto passou a ser
referência também para a composição do novo governo. Na quinta-feira,
Lula recebeu Marcio Pochmann, candidato petista derrotado em Campinas,
para discutir seu aproveitamento na equipe de Haddad. A agenda oficial
recente incluiu visitas de ex-presidentes e personalidades
internacionais, como Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França; Fernando
Lugo, presidente deposto do Paraguai, e a primeira-dama do Peru, Nadine
Heredia. Na agenda privada, estavam o marqueteiro João Santana, o
publicitário Valdemir Garreta, o advogado Roberto Teixeira, amigo e
compadre de Lula, e o gerente de comunicação da Petrobrás, Wilson
Santarosa.
Conforme o site oficial, o Instituto é mantido por doações de empresas e
pessoas que se identificam com seus objetivos, mas a relação de
doadores não é divulgada, assim como as despesas bancadas. Um dos
objetivos declarados é a construção do Memorial da Democracia em que o
ex-presidente será a figura central. A entidade nasceu com o governo
paralelo que Lula estruturou após ser derrotado nas eleições de 1989
para acompanhar criticamente o governo de Fernando Collor de Mello, com
o nome de Instituto da Cidadania. No ano passado, com Lula fora da
Presidência, transformou-se no Instituto Lula tendo seu patrono como
presidente de honra.
A instituição é dirigida pelo amigo pessoal e "braço direito" de Lula,
Paulo Okamoto, com assessoria de Clara Ant, sua ex-assessora na
Presidência, e dos ex-ministros Luis Dulci (Secretaria-Geral da
Presidência) e Paulo Vanucchi (Direitos Humanos). O estatuto aprovado
em agosto de 2011 sofreu mudanças recentes. As novas normas ainda não
foram postadas no site. Okamoto disse que o objetivo da mudança foi
possibilitar maior atuação na área cultural. O foco central continua
sendo "a cooperação do Brasil com a África e a América Latina". (Texto do Valor Econômico)
Postado pelo Lobo do Mar
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