POR FERNANDO MELLO
DE BRASÍLIA
A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary
Noronha pediu favores até para o diretor-geral da Polícia Federal,
Leandro Daiello -chefe do órgão que a investigava e que faria apreensões
em seu escritório semanas depois.
O pedido ocorreu na sede presidencial na capital paulista, menos de um
mês antes de a PF deflagrar a Operação Porto Seguro, que desarticulou um
esquema de venda de pareceres e indiciou Rosemary sob a acusação de
tráfico de influência, corrupção passiva e formação de quadrilha.
Daiello estava na cidade para uma reunião sobre segurança pública.
Rosemary não participou do encontro, mas, ao final, procurou o policial e
se apresentou como assessora desde a época do ex-presidente Lula.
Segundo descreveram à Folha dois policiais que atuaram na Porto Seguro,
ela pediu ao diretor da PF ajuda para seu marido, João Oliveira.
Ao policial Rose contou que o marido entrava com facilidades nos Estados
Unidos só quando desembarcava em Nova York. Reclamou que ele sempre era
revistado quando desembarcava por Miami.
Rose pediu que o diretor da PF entrasse em contato com autoridades
norte-americanas para tentar resolver a questão -sem detalhar como.
Ele ficou receoso porque poderia ser uma tentativa de Rose para
descobrir se estava sob investigação ou porque poderia acabar gerando
alguma repercussão.
Daiello sugeriu que ela enviasse o pedido por e-mail, para deixar registrado o possível tráfico de influência.
FOTOS E CURRÍCULOS
Os policiais ouvidos pela Folha contaram que Daiello avisou os
investigadores sobre a mensagem -que poderia eventualmente servir para
apurar evasão de divisas. O e-mail foi enviado e está nos autos do
processo.
Na mensagem, Rose diz a Daiello que, como combinado, enviava dados de
seu marido: nome, RG, CPF e passaporte. Ela mandou o pedido por meio da
conta oficial da Presidência para o endereço de e-mail do diretor da PF.
Procurado pela reportagem, Daiello disse que não comentaria a investigação.
A PF fez busca e apreensão no escritório de Rosemary na sede da
Presidência. Lá, havia fotos dela com Lula, inclusive em encontros
informais, como um churrasco.
Outro local em que a polícia fez busca foi o gabinete de José Weber
Holanda, ex-advogado-geral-adjunto da União, também indiciado. Na sala
dele havia ao menos dez currículos de juízes que se colocavam como nomes
ao Supremo Tribunal Federal -entre eles o de Teori Zavaski,
recentemente nomeado.
A AGU é um dos órgãos que analisam nomes de futuros ministros do STF.
Alguns currículos eram acompanhados de cartas de parlamentares.
OUTRO LADO
O advogado de Rosemary Noronha, Celso Vilardi, disse ter visto o e-mail
no material apreendido pela PF, mas afirmou que o e-mail não tinha
relevância criminal.
Segundo Vilardi, o próprio delegado Ricardo Hiroshi "não deu relevância
para a mensagem" e não a destacou entre as provas. Ele disse que ainda
analisa o material da PF para apresentar a defesa.
Paulinho da Força usa a máquina paulista para montar o Solidariedade.
Funcionários
da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo
estão recolhendo assinaturas no horário de expediente para fundar o
Partido Solidariedade, nova legenda articulada nos bastidores pelo
deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical. O
parlamentar controla a pasta do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Ele
indicou para o posto de secretário o sindicalista Carlos Ortiz, que
nomeou filiados do PDT, partido de Paulinho, para cargos estratégicos,
como chefia de gabinete, coordenadorias de programas e diretorias
regionais.
Na última semana, o Estado recebeu denúncias de que servidores estariam sendo abordados pelos filiados do PDT na pasta nas dependências da secretaria para assinarem as fichas de apoio à criação do novo partido. O material estaria distribuído pelas mesas da pasta. Para ser criado, o Solidariedade precisa de 491 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados. As assinaturas são submetidas aos Tribunais Regionais Eleitorais, analisadas pelo Ministério Público e enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral, que concede o registro. Se o partido for criado até outubro deste ano, estará apto para disputar a eleição de 2014.
A reportagem do Estado esteve na secretaria e, ao questionar funcionários locais sobre a ficha de criação do Solidariedade, foi encaminhada à Coordenadoria de Políticas de Inserção no Mercado de Trabalho, cujo coordenador é Luciano Martins Lourenço, filiado ao PDT. No local, uma sala no 2.º andar da secretaria, uma funcionária da pasta forneceu cerca de 300 fichas de apoiamento ao Solidariedade, que estavam guardadas num armário. Servidores pegaram as fichas, recolheram assinaturas de amigos ou familiares e as preencheram com dados, como título de eleitor.
Além de Lourenço, outros dois filiados do PDT recolhem assinaturas: Helder Liberato Bovo, que foi nomeado em 2012 assistente técnico do órgão e que trabalha com Lourenço na coordenadoria, e Tadeu Morais de Souza, que é o atual chefe de gabinete do secretário. O uso da máquina pública para fins partidários pode configurar improbidade administrativa. "O uso de uma estrutura pública é vedado para esses fins, recaindo a responsabilidade sobre o funcionário público ou chefe da repartição", explica o advogado Ricardo Vita Porto.
No ano passado, o Estado revelou o loteamento de cargos na secretaria. Entre os agraciados estava o filho de Paulinho, Alexandre Pereira da Silva. Ele trabalhava no local e exercia uma função para a qual nem sequer havia sido nomeado oficialmente. Alckmin determinou que a Corregedoria-Geral da Administração abrisse um procedimento para investigar o caso. Questionado sobre a evolução da investigação, o Palácio dos Bandeirantes informou que o órgão enviou o pedido de apuração do caso para a Secretaria de Emprego. Ainda não há conclusão oficial.
Em conflito com a atual direção do PDT, Paulinho começou a articular o Solidariedade. Para isso, chamou o advogado Marcílio Duarte Lima, especialista em criar novas legendas. É ele quem responde oficialmente pelo projeto, que já tem até estatuto - Paulinho tem dito que só decidirá sobre a entrada na legenda depois de o partido estar criado, mas é ele quem comanda as conversas políticas sobre o tema.
Os envolvidos já teriam recolhido 300 mil assinaturas. Contariam ainda com o comprometimento de cerca de 40 deputados, muitos do PSD, fundado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab. A corrida pelas assinaturas para fundar o Solidariedade tem a ajuda de sindicatos ligados à Força. "Estamos coletando as assinaturas para dar uma ajuda para o pessoal. Se vou entrar ou não, não sei. É uma questão futura", disse Cícero Martinha (PDT), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.(Estadão)
Na última semana, o Estado recebeu denúncias de que servidores estariam sendo abordados pelos filiados do PDT na pasta nas dependências da secretaria para assinarem as fichas de apoio à criação do novo partido. O material estaria distribuído pelas mesas da pasta. Para ser criado, o Solidariedade precisa de 491 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados. As assinaturas são submetidas aos Tribunais Regionais Eleitorais, analisadas pelo Ministério Público e enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral, que concede o registro. Se o partido for criado até outubro deste ano, estará apto para disputar a eleição de 2014.
A reportagem do Estado esteve na secretaria e, ao questionar funcionários locais sobre a ficha de criação do Solidariedade, foi encaminhada à Coordenadoria de Políticas de Inserção no Mercado de Trabalho, cujo coordenador é Luciano Martins Lourenço, filiado ao PDT. No local, uma sala no 2.º andar da secretaria, uma funcionária da pasta forneceu cerca de 300 fichas de apoiamento ao Solidariedade, que estavam guardadas num armário. Servidores pegaram as fichas, recolheram assinaturas de amigos ou familiares e as preencheram com dados, como título de eleitor.
Além de Lourenço, outros dois filiados do PDT recolhem assinaturas: Helder Liberato Bovo, que foi nomeado em 2012 assistente técnico do órgão e que trabalha com Lourenço na coordenadoria, e Tadeu Morais de Souza, que é o atual chefe de gabinete do secretário. O uso da máquina pública para fins partidários pode configurar improbidade administrativa. "O uso de uma estrutura pública é vedado para esses fins, recaindo a responsabilidade sobre o funcionário público ou chefe da repartição", explica o advogado Ricardo Vita Porto.
No ano passado, o Estado revelou o loteamento de cargos na secretaria. Entre os agraciados estava o filho de Paulinho, Alexandre Pereira da Silva. Ele trabalhava no local e exercia uma função para a qual nem sequer havia sido nomeado oficialmente. Alckmin determinou que a Corregedoria-Geral da Administração abrisse um procedimento para investigar o caso. Questionado sobre a evolução da investigação, o Palácio dos Bandeirantes informou que o órgão enviou o pedido de apuração do caso para a Secretaria de Emprego. Ainda não há conclusão oficial.
Em conflito com a atual direção do PDT, Paulinho começou a articular o Solidariedade. Para isso, chamou o advogado Marcílio Duarte Lima, especialista em criar novas legendas. É ele quem responde oficialmente pelo projeto, que já tem até estatuto - Paulinho tem dito que só decidirá sobre a entrada na legenda depois de o partido estar criado, mas é ele quem comanda as conversas políticas sobre o tema.
Os envolvidos já teriam recolhido 300 mil assinaturas. Contariam ainda com o comprometimento de cerca de 40 deputados, muitos do PSD, fundado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab. A corrida pelas assinaturas para fundar o Solidariedade tem a ajuda de sindicatos ligados à Força. "Estamos coletando as assinaturas para dar uma ajuda para o pessoal. Se vou entrar ou não, não sei. É uma questão futura", disse Cícero Martinha (PDT), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.(Estadão)
Postado pelo Lobo do Mar
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