“Nesse
momento em que a atividade política é tão vilipendiada, faço questão de
registrar nesta mensagem o meu sincero reconhecimento ao imprescindível
papel do Congresso Nacional na construção de um Brasil mais
democrático, justo e soberano.”
O trecho
acima faz parte da mensagem da presidente Dilma Rousseff ao Congresso,
levada nesta segunda pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Gosto de texto. Vivo de interpretá-los — e, como é sabido, de
escrevê-los também. Sem dúvida, uma parte do que vai acima faz sentido:
os parlamentos, nas democracias, têm mesmo um papel imprescindível. O
Legislativo é, por excelência, a expressão da vontade popular, com mais
nuances do que o Executivo. Então estamos todos de acordo nisso.
Mas e as
primeiras linhas do trecho em destaque? Dilma está obviamente errada. A
questão, agora, é saber, em termos estritamente políticos, se estamos
diante de uma ação meramente culposa ou se há dolo. Eu gostaria de vê-la
a desenvolver o tema, transformando-o numa dissertação com começo, meio
e fim, como se costuma cobrar dos alunos que prestam o Enem ou o
vestibular.
Segundo a
governanta, “a atividade política está sendo vilipendiada”! É mesmo? Por
quem? Quem são os vilipendiadores? A presidente não disse, mas posso
presumir. Certamente não se referia aos respectivos presidentes do
Senado e da Câmara, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN). Tanto é assim que o Planalto se empenhou efetivamente em
favor da eleição de ambos. Quem, Santo Deus!, faz essa coisa horrível,
que atenta contra a democracia?
Já sei! É a
imprensa independente — boa mesmo é aquela que se pendura no dinheiro
público. Esse negócio de ficar noticiando irregularidades cometidas por
políticos da base aliada acaba conduzindo toda a política ao
desprestígio, entendem? Como diria Odorico Paraguaçu, esse jornalismo
“safadista” precisa parar de publicar tudo o que sabe ou apura. E daí
que os respectivos presidentes das duas Casas legislativas estejam
enrolados em casos nebulosos? E daí que parte da Mesa Diretora de ambas
também tenha contas a prestar à Justiça? Tornar essas coisas públicas
concorre para o… desprestígio da política!
Na lista
dos culpados também deve figurar o STF, esse tribunal que agora decidiu
aplicar o que vai na Constituição e nas leis, condenando alguns larápios
à cadeia e cassando, segundo que dispõem os marcos legais, o mandato de
quatro deputados que desonraram a representação popular. Nota: todos
eles foram cassados em razão de crimes caracterizados no Código Penal.
Essa parte
do discurso de Dilma é péssima, e certamente lhe foi soprada aos
ouvidos por maus conselheiros. Quando os jornalistas noticiam os
malfeitos, não estão “vilipendiando a política”. Ao contrário: eles a
estão preservando da ação dos maus políticos. Este, sim, conspurcam a
única instância criada pelo homem que permite que os fortes e os fracos
se igualem.
Quando o
STF decide punir os que tentaram golpear a República, está reconhecendo a
ação daqueles que traíram o voto popular e a Constituição da República.
Vilipêndio é comprar consciências; é vender a própria consciência; é se
servir da coisa e da causa públicas em vez de servir ao público.
No mesmo
dia em que essa mensagem de Dilma foi lida, o comando da nova Mesa
Diretora da Câmara anunciou a disposição de resistir à decisão do STF,
que cassou o mandato dos deputados mensaleiros (ver posts abaixo).
De onde parte o vilipêndio?
De resto, Dilma está muito longe de ser um exemplo de respeito ao Congresso. O Código Florestal e a nova Lei dos Royalties do petróleo o evidenciam. Nos dois casos, o governo negociou pouco e mal, preferindo decidir tudo na base de vetos e Medidas Provisórias. Isso, sim, torna o Parlamento brasileiro mero serviçal do Executivo.
De resto, Dilma está muito longe de ser um exemplo de respeito ao Congresso. O Código Florestal e a nova Lei dos Royalties do petróleo o evidenciam. Nos dois casos, o governo negociou pouco e mal, preferindo decidir tudo na base de vetos e Medidas Provisórias. Isso, sim, torna o Parlamento brasileiro mero serviçal do Executivo.
Na sua
conversão ao establishment, o PT não se tornou um partido da ordem
qualquer. Sua militância passou a ser franca e abertamente reacionária. A
legenda descobriu que a maior inimiga das instituições é mesmo a…
ética!
Mesa da Câmara que ameaça confrontar STF tem três processados.
A nova Mesa Diretora da Câmara, que foi eleita ontem, tem
três deputados com problemas na Justiça. Além do presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), os
congressistas Maurício Quintella (PR-AL) e Takayama (PSC-PR) também enfrentam
acusações.
O presidente é alvo de ação no Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Norte. Ele foi condenado em primeira instância em maio de 2011,
junto com seu primo, o ex-governador do Rio Grande do Norte e hoje ministro da
Previdência Social, Garibaldi Alves Filho. Conforme a decisão, Henrique Alves, quando era secretário de
Governo de Garibaldi, usou recursos públicos, por meio de propagandas
institucionais, para se promover pessoalmente.
Terceiro-secretário, Quintella é alvo de um inquérito no STF
(Supremo Tribunal Federal) por peculato. Uma de suas atribuições no
cargo é controlar a Corregedoria
da Câmara, órgão que tem como função investigar denúncias contra
parlamentares. A última movimentação do processo é de abril de 2011. O
material está nas mãos da relatora do caso, a ministra do Supremo
Tribunal
Federal Cármen Lúcia.
Quarto-suplente, o deputado Takayama (PSC-PR) responde a uma
ação penal por peculato, estelionato e crimes contra a ordem tributária. O processo está em segredo de Justiça. (Folha de São Paulo)
Postado pelo Lobo do Mar
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